Por vezes até te odiamos. Outras chegamos a amar-te. De facto não posso passar sem ti e por isso te odeio, te deploro, te abomino. Dás-me o mundo e tiras-me a vida. Dás-me o conhecimento e roubas-me o tempo. Ofereces-me liberdade em troca de dependência e assim, voltas a tirar-ma, pois qualquer subordinação é uma prisão. E é assim que vivemos, quando mais te odeio, te deploro, te abomino, mais tu me dás. Sim, mais me dás. Transportas os amigos perdidos nos confins do tempo e da juventude e entregas-mos sem dó nem piedade, cheios de boas recordações e de saudade. Acarretam com eles lembranças de inocência, de felicidade, de juventude plena e liberta, de odores de imortalidade e fragrâncias de eterna adolescência, sem dores, sem mazelas, sem passado nem futuro. Trazes a mim memórias já esquecidas, já purgadas, guardadas na gaveta das reminiscências, sem chave nem fechadura e abre-la, bem à minha frente, onde não possa deixar de olhar. E atiras-me para o passado como se eu o quisesse de volta. E quero. Mas já não posso. A minha cabeça diz-me que sim mas o espelho, eterno comedor de sonhos e pintor ignóbil de quilos, lembra-me, vil e infame, que não consegue reflectir o sorriso sem rugas, a alegria sem dor, o amor sem fronteiras nem defeitos.
É. Devolves-me os amigos. Mas estão vazios de tempo, de sonhos, de esperanças, de riso à “boca cheia”, de música e de baile. Sem tempo para eles e para mim. Carrega-los com filhos que lhes roubaram a inocência, a alegria infante, o futuro risonho e sem estorvos. É. Agora é deles, dos filhos. E depois será dos filhos dos seus filhos. Agora compreendo porque a esperança não morre. Quem morre são os que a transportam.
Não estou ressentido contigo, não. Trazes-me os amigos e com eles as recordações. Essas, nem tu mas podes tirar, Internet.
Adorei o texto! Expressou bem o que senti depois que nos falamos. Sou agora uma seguidora.
ResponderEliminarbjos